
a madeira vibra a fórmica brilha vibra minha mão transpira demais como sempre eu vibro com a madeira e a fórmica ou a fórmica e a madeira me vibram eu não sei mais respirar acordei sem ter dormido e o que é que eu faço com isso o que é que eu faço com tudo isso meu deus e eu nem acredito em deus nenhum o que é que eu faço com você a mesa vibra na palma grudenta e ridícula da minha mão e eu me alegro por poder disfarçar o fato de que eu desaprendi a respirar pesadelo é um clichê dispensável e o que é que eu faço com você?
o que é que eu faço com você?
mais nada. encaro os óculos na minha mão direita avulsos como se. desprezo mirou de volta. mas não naquele dia. não daquela vez. pressiono falanges metacarpos carpos contra as orelhas até crer-me imune. umidade. penso: dose sublingual. mas ainda não.
ainda não acabei
estou sentada debaixo do chuveiro as pernas bem abertas os olhos bem fechados
ainda não acabei
eu não pedi para parar quando senti dor e mesmo assim dor
ainda não acabei
quando eu pedi para parar, você:
ainda não acabei
as notícias são as piores possíveis que tipo de mulher aceita passagem pro estrangeiro?
ainda não acabei
de puxar esse fio eterno de dentro da minha —
ainda não acabei
mas quando acabar
uma nova galáxia estampará a pele do universo em expansão.
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